“Contrata-se pela competência técnica e demite-se pela comportamental” – quem nunca ouviu falar daquele profissional tecnicamente reconhecido em sua área, mas que era uma pessoa “difícil”? É isso o que abordamos quando falamos sobre hard skills e soft skills.
Skill é uma palavra inglesa que, segundo o dicionário Collins significa: “o conhecimento e a habilidade que permite você fazer algo bem” e “é um tipo de trabalho ou ofício que requer um treinamento especial e conhecimento”.
Dessa forma, skill é uma competência intrínseca e que pode ser desenvolvida em cada pessoa. No contexto empresarial, nos últimos tempos, tem se aplicado o termo “competência” como uma palavra de ordem. Os professores doutores Afonso Fleurry e Maria Tereza Leme Fleury definem competência como “um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo”. Esse “saber agir responsável e reconhecido” engloba uma série de habilidades que se dividem em dois outros conceitos: as hard skills (habilidades técnicas) e as soft skills (competências socioemocionais). Ainda na língua inglesa, hard pode significar duro ou também difícil, e soft pode significar mole, macio, suave ou simples, dando a entender que as habilidades comportamentais quando comparadas às habilidades técnicas seriam mais simples ou até mesmo mais fáceis.
Pode-se dizer que hard skills são as habilidades técnicas, e as soft skills são as competências socioemocionais, que podem ser exemplificadas como: comunicação, liderança; habilidade em tomar decisões; gestão de conflitos; construção de equipes e facilidade em trabalhar em equipe.
Ao contratarem os seus profissionais, as empresas mantinham seu foco somente nas hard skills, porém essa realidade mudou. Já se sabe que as hard skills não são mais suficientes para o sucesso das pessoas e das organizações. Agora, as soft skills se tornaram condição indispensável para alavancar resultados de negócio e para o sucesso profissional, daí serem denominadas mais recentemente power skills.
O novo diferencial
Eu, Cristina, sou professora, consultora e trainer nas áreas de desenvolvimento organizacional e de capital humano. Eu nasci com essas competências profissionais? Não. Elas foram aprendidas e desenvolvidas ao longo da minha vida acadêmica e profissional, isso quer dizer que eu desenvolvi minhas hard skills.
Os professores da Universidade de Oklahoma, Thomas A. Wikle e Todd D. Fagin explicam que as hard skills podem ser adquiridas por meio de treinamento, educação ou experiência; trata-se de habilidades especializadas para que o indivíduo realize uma tarefa. Logo, conceitua-se hard skill como a habilidade técnica específica que se relaciona com um determinado campo de conhecimento. Hard skills são todas as conquistas que constam em um currículo, tais como formação acadêmica, experiência profissional, conhecimentos, cursos, habilidades de uso de softwares, métodos específicos e certificações. Geralmente, podem ser mensuradas ou comprovadas por meio da produção de algum tipo de artefato (diploma, certificado ou peça/documento, ou seja, o resultado do trabalho feito após a aplicação do conhecimento em questão).
E o que mudou na demanda do mercado de trabalho que passou a valorizar outras habilidades além das hard skills?
Há dois fatores que podemos considerar: a rápida evolução da tecnologia e a transição de uma economia industrial para uma economia que tem como base o conhecimento. O mundo convive com a sociedade do conhecimento. Essa realidade torna fundamental para as organizações saberem identificar e gerir de maneira inteligente os seus líderes, pois a partir das ações deles há implicações substanciais no cotidiano material e mental das pessoas.
Cada vez mais estamos expostos à inteligência artificial, à robótica avançada, ao transporte autônomo, à biotecnologia etc. Além disso, a interação de fatores demográficos e socioeconômicos e de fatores geopolíticos e tecnológicos já revelam rupturas de modelos na área do trabalho e emprego que desafiam a forma como se fazem negócios, como se faz gestão e, obviamente, a capacidade de adaptação e de inovação de empresas, de grupos sociais, de governos e de indivíduos.
Hoje, para conseguirmos evoluir na carreira, não basta sermos excelentes profissionais tecnicamente, as organizações aprenderam que líderes e demais pessoas com competências emocionais bem desenvolvidas melhoram o ambiente de trabalho e geram economia e aumento de produtividade. Sabendo disso, as empresas tendem a buscar e investir em pessoas com esses atributos desenvolvidos.
Habilidades relacionadas à inteligência emocional, à inteligência social, à resiliência e à liderança, somadas a capacidades técnicas, vem se tornando os principais diferenciadores para profissionais de todas as áreas. Esse é o segredo por trás de profissionais que se destacam e é nesse ponto que entender e desenvolver soft skills se tornou uma exigência para quem deseja crescer na carreira.
*Cristina Goldschmidt é a idealizadora do Instituto Novas Idades. Autora, palestrante e professora. Autora do livro Soft Skills sem sofrimento: um guia para tomar as rédeas da sua carreira. Professora autora e convidada dos MBAs na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Experiência que conta com mais de 2 mil horas de coaching e mentoria de executivos e profissionais e mais de 5 mil alunos atendidos em programas nacionais e internacionais. 25 anos de vivência em empresas, sendo mais de 10 à frente de equipes multigeracionais e multiculturais. Mestre em Gestão Empresarial e MBA em Gestão de Projetos pela FGV, e graduada em Direito pela UCAM e em Letras pela UERJ.